segunda-feira, 7 de março de 2016

O arrumador de carros


Se os senhores de uma certa idade soubessem o quanto me enervam quando tentam ajudar-me a estacionar o carro, não tentavam. E querem até contrariar o apito irritante que se faz ouvir lá dentro quando as paredes e os lancis dos passeios, e os outros carros e as pessoas e as árvores e as folhas dos arbustos se começam a aproximar. Mas desta vez o senhor de certa idade arrumador de carros atinou com o apito e ficou visivelmente exultante quando viu que eu fazia tudo o que ele dizia. Obviamente que eu nem estava a olhar para ele; esbraçajadelas de fora do carro sempre me enervaram e provocaram manobras verdadeiramente complicadas, em lugar da coisa simples e linear que poderia ser se me deixassem sozinha com a máquina com quem, modéstia à parte, me entendo particularmente bem. Mas ao apito irritante do meu carro, obedeço cegamente, até porque um dia queixei-me do irritante que era o seu apito e ele deixou de funcionar durante uns tempos, para voltar quando eu fiz umas festinhas no volante e lhe disse pronto, pronto, eu não volto a chamar irritante ao teu apito. Os senhores de uma certa idade são uns queridos; acham as mulheres um bocado ineptas e aquilo que eles acham que é uma miúda (que, na verdade, se trata de uma mulher daqui a nada com 40 anos), ao volante de um carro que tenha mais dois centímetros que um Twingo, pode ser entendido por eles como um sinal claro de perigo e de alerta. Assim, mobilizam-se de imediato, o que eu acho particularmente simpático, ao contrário da atitude natural dos nossos jovens, que não têm ânimo nem para movimentar um pé, no que toca a agir de forma pro-activa, nem que seja por motivações esquisitas.

Texto originalmente publicado no blog "Riscado a Giz".

Sem comentários: