sábado, 24 de dezembro de 2011

Ai toalha, toalha para que te quero.

Era uma vez alguém que tinha acabado de tomar banho e estava com o cabelo todo molhado e pouco composta. Não sei bem como, se calhar porque não me lembro, ou se calhar porque não fui informada, uma toalha aterrou no varal da vizinhança de baixo. Estava eu a arrumar a loiça, depois de os senhores carpinteiros terem aprontado na cozinha uma daquelas badalhoquices que só os senhores carpinteiros e afins sabem aprontar; e é sempre assim, independentemente da qualidade do trabalho que vieram executar. Que as criaturas não conseguiam mudar as dobradiças dos móveis com a porcelana lá dentro; ou teria sido noutra altura? Não sei, sei que estava na cozinha a arrumar os cacos quando me pedem que vá à vizinha de baixo pedir dita a toalha. Eu fui. A meio da escadaria lembrei-me, no entanto, da coloração semelhante a arco-íris esverdeado que se fez na tez da dita criatura da última vez que me vira no elevador. Que isso de ir mais que um em elevadores daquele calibre devia ser proibido. Ainda lhe sorri, mas foi a cor da bandeira do Brasil que obtive em resposta. Voltei a entrar em casa e expliquei a situação; se lá vou, é com o nariz na porta que vou dar. 

A moça lá se compôs, lá desceu as idas de degraus e foi fazer pela vida. Entretanto eu em casa pensava numa forma de tirar a toalha do varal do andar de baixo, até porque ninguém atendera a pobre rapariga. "Eu não disse" - pensei eu, mas não disse, que eu não costumo dizer "eu não disse"; até porque eu não disse, eu sempre achei que a ela lhe haveriam de abrir a porta.

Depois foram chapéus de chuva com cordas atadas e toda a sorte de engenhocas e engarelas e invenções, mas sem grande aparência de sucesso fácil, pelo menos. A ideia seria mandar uma marretada na boa da toalha, que estava dependurada, e enviá-la directamente para as pedras da calçada. Tal como um dia aconteceu com uma caixa cilíndrica de camisas e um cubo de esponja a fazer de dado do jogo da glória; surrealista foi a minha experiência de ir pela rua e ver chover objectos daquela ordem e dimensão. Desta vez, no entanto, era nosso objectivo específico provocar uma breve chuva de objecto bem identificado. 

 Obrigou-me a controlar a minha criatividade, refrear a minha genialidade, a moça que, cansada de tanto engenho, desceu as escadas e bateu à campainha com mais insistência e vigor desta vez. Não veio a senhora, veio o senhor; criatura muito simpática que foi buscar a dita toalha, tão desejada, e, simpaticamente a devolveu à proveniência.

E assim acabou mais uma das nossas muitas aventuras por terras coimbrãs; mais uma, mas certamente não a última, oh, oh, não senhor, não seria a última... :)


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